HISTÓRIA DAS RELIGIÕES
A comunidade de Qumran e o
pensamento nazoreano!
O nome árabe da localidade é Hirbet Qumrãn. Trata-se de um grupo de
ruínas ao pé das montanhas do deserto da Judéia e a 500 metros das margens do
Mar Morto, não muito longe de Jericó a 40 quilômetros de Jerusalém. Foi
ignorado por muito tempo, mas entrou como protagonista no mundo bíblico a
partir de 1947, quando descobriu-se, por acaso, grutas em volta da localidade,
que guardavam no seu interior os assim chamados “manuscritos do Mar Morto”.
Graças ao trabalho dos arqueólogos
foi possível descobrir que no local residia uma particular comunidade que, como
mostram as evidências, quando estourou a guerra entre judeus e romanos, nos
anos 60-70 d.C., escondeu, nas grutas próximas, os textos que lhe pertenciam.
Por causa dessa descoberta o nosso conhecimento do judaísmo do tempo de Jesus
foi enriquecido de forma espetacular. Também o início do cristianismo e o Novo
Testamento puderam ser considerados sob novas perspectivas
e o texto do Antigo Testamento ganhou um testemunho privilegiado.
Os textos foram encontrados por um
pastor árabe, que procurava recuperar uma cabra que tinha se separado do
rebanho. Por acaso descobriu um buraco no barranco. Jogou uma pedra e escutou o
barulho de vasos de cerâmica que se quebravam. Os pastores, nos dias seguintes,
pensavam ter descoberto um tesouro, mas ficaram frustrados, pois acharam apenas
alguns pergaminhos amarrados e um pouco fragmentados por causa do tempo. Eles na
prática encontraram os primeiros 7 pergaminhos do Mar Morto. Em 1955 o governo
de Israel anuncia que comprou todos os 7 manuscritos e que seriam conservados
num museu especial, chamado Santuário do Livro, onde estão até hoje.
A descoberta dos manuscritos levou
muitos arqueólogos a interessar-se pelo local onde foram encontrados. Já em
1949 teve início uma expedição oficial, que encontrou mais 10 grutas que também
escondiam pergaminhos. Depois dessas primeiras descobertas a atenção foi dada
às ruínas próximas às grutas, que se pensava fossem somente os restos de uma
fortaleza romana. Depois das escavações o parecer é quase unânime: foi ali que
nasceram todos os manuscritos encontrados, fruto do lavoro de uma comunidade
que viveu naquele local entre os anos 125 a.E.C. e 68 d.E.C.. Os pergaminhos
teriam sido escondidos com pressa naquelas grutas, enquanto a suposta
comunidade escapava da invasão do exército romano, que se encontrava na Judéia
para abafar a revolta judaica.
A origem da comunidade provavelmente
tem a ver com conflitos no templo de Jerusalém entre os sacerdotes. O líder da
comunidade de Qumrãn, chamado nos manuscritos de “Mestre de Justiça”, era um
sacerdote que lutava para implantar uma observância mais rigorosa da Lei nos
atos litúrgicos em Jerusalém. Em particular pretendia substituir o calendário
lunar com o solar. Isso teria permitido observar de modo mais estrito o sábado,
pois desse modo às festas não cairiam nunca nesse dia. Com propostas como esta
esse personagem, de quem não se conhece o nome, entra em conflito com os
asmoneus, que unificaram o poder religioso àquele político e decide abandonar
Jerusalém e vai viver no deserto, com seus seguidores, para preparar-se ao fim
do mundo, que julgava estar próximo.
A comunidade provavelmente não era pequena, pois os túmulos encontrados são mais de 1000. Para se sustentar trabalhavam na agricultura nas proximidades das atuais ruínas e dividiam aquilo que possuíam.
A comunidade provavelmente não era pequena, pois os túmulos encontrados são mais de 1000. Para se sustentar trabalhavam na agricultura nas proximidades das atuais ruínas e dividiam aquilo que possuíam.
Os homens de Qumrãn acreditavam firmemente na
assim chamada “doutrina das últimas coisas”: se preparavam para um juízo
eminente onde os seus inimigos seriam derrotados e eles, escolhidos por Deus,
venceriam, segundo a promessa dos profetas. É nesse contexto que precisa
colocar a doutrina sobre o Messias, muito presente nos textos do Mar Morto.
Eles acreditavam em 3 messias: um profeta, outro sacerdote e o terceiro rei ou
príncipe. Na Regra da Comunidade, um dos documentos encontrados, se diz que o
membro da comunidade deve viver sob a Lei até a chegada do profeta e dos
messias de Aarão e Israel. Essas três figuras apareceriam antes dos últimos
dias, que a comunidade atendia. No documento chamado Testemunho são citadas
algumas passagens da Bíblia que sustentam a doutrina messiânica: Dt 18,18-19 –
Deus diz a Moisés: suscitarei um profeta como ti entre teus irmãos”; Nm
24,15-17: Balaã prevê que aparecerá um príncipe conquistador; o terceiro texto
é a bênção pronunciada por Moisés sobre a tribo de Levi, tribo sacerdotal (Dt
33,8-11).
No fim dos tempos, os homens de Qumrãn atendiam a batalha final na qual
eles, os filhos da luz, lutariam contra os filhos das trevas. Portanto a
teologia de Qumran é baseada num dualismo exagerado. A pureza cultual e a
observância radical da Lei serviam como preparação à guerra final.
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