quarta-feira, 23 de julho de 2014

HISTÓRIA DAS CIVILIZAÇÕES - CONFLITOS DO ORIENTE MÉDIO II

Aspectos geopolíticos: Local – Assíria, Mesopotâmia, Babilônia, Iraque, Irã, Jerusalém. Povos – Assírios, Medos, Persas, Macedônio, Hebreus. Datas – 560 a.E.C. (antes da era comum) na visão cristã a.C. (antes de cristo)

Segundo Heródoto, o avô de Ciro, Astíages, último rei do Império Medo, teria sonhado que seu neto destruiria o reino e dominaria toda a Ásia. Astíages então mandou que seu serviçal pegasse a criança e a matasse nas montanhas. Harpago, na época o serviçal, ficou com pena de Ciro e entregou a criança para um pastor, que acabou cuidando de Ciro por um tempo até que ele teve plena consciência de sua linhagem real.
A mãe de Ciro, Mandane, era filha de Astíages, mas seu pai, Cambises, era um nobre que controlava a Pérsia, região onde hoje fica o atual estado do Irã e era, na época, um reino submisso aos medos. Quando Ciro chegou ao poder na Pérsia, em 559 a.E.C., ele uniu-se a Harpago e comandou uma revolta contra Astíages.
Harpago desejava a vingança contra Astíages, já que o rei, sabendo do não cumprimento da ordem por parte de seu serviçal, mandou matar o filho deste. Derrotado, Astíages foi mandado à presença de Ciro para julgamento, mas o neto acabou perdoando o avô. Sem um rei para fazer frente à ocupação, Ciro invadiu Ecbátana, capital da Média, e tomou o poder da vasta área já controlada pelos medos.
Ciro, ao controlar toda a região antes submissa aos medos, fundou o Império Persa e passou a reinar em uma vasta área que ia da Capadócia, no oeste, até a Ária, a leste, também fazendo fronteira com os montes Cáucasos ao norte e a Assíria e a Babilônia ao sul.
Mas Ciro não ficou sentado em seu trono esperando os inimigos invadirem o império e tumultuarem o ambiente interno, além de aguardar o crescimento populacional de seu povo que, na época, era um assunto que já exigia muita atenção do rei.
Ciro partiu para as campanhas de conquista, buscando terras para ampliar cada vez mais as plantações e os espaços para criação de gado e outros animais além, claro, da busca por submeter novos povos ao pagamento de impostos. A primeira grande conquista militar de Ciro aconteceu em 546 a.E.C. e foi na região da Lídia e das colônias gregas da Ásia Menor, territórios que os medos tentaram conquistar por décadas sem sucesso. Depois Ciro conquistou a região do Turquestão, a leste, expandindo ainda mais o território. Em 539 a.E.C. Ciro conquistou a região da Babilônia e o fato ajudou suas relações com os fenícios e os hebreus, povos que viviam sob o domínio dos governantes da Babilônia. Ao conquistar a região, Ciro teria proclamado:
“Eu sou Ciro, rei do mundo, grande rei, rei legítimo, rei de Babilônia, rei da Suméria e de Acade, rei das quatro extremidades, filho de Cambises, grande rei, rei de Anzã, . . . descendente de Teíspes . . . de uma família [que] sempre [exerceu] a realeza.”*
Ciro foi um imperador habilidoso tanto na conquista como na administração e manutenção dos povos conquistados. Seus exércitos usavam táticas de invasão com apoio de arqueiros e cavaleiros. Os soldados invadiam as cidades e fortalezas em blocos, dificultando a defesa dos inimigos.
Após a conquista, Ciro procurava manter os líderes locais em seus devidos cargos administrativos, demonstrando piedade para com os vencidos e não proibia o culto do povo, ou seja: havia muita tolerância religiosa. Se traçarmos um paralelo com os dias de hoje, podemos observar que na região a tolerância religiosa é bem pequena, quase nula, diferente do tempo em que os persas dominavam. O Império Persa cobrava impostos dos povos dominados e estes sim deveriam ser pagos com frequência religiosa. Alguns líderes eram levados para trabalhar em posições superiores na hierarquia persa. Cada região ficava sob o comando de um sátrapa, que era o principal governante local – uma espécie de secretário-geral, ou até mesmo um governador da região -, e muitos deles eram os próprios reis locais, que Ciro designava como sátrapa. Esta decisão fazia com que os povos conquistados tivessem relativa autonomia interna, mesmo dominados pelos persas. Para impedir a corrupção, Ciro ordenou que fosse montada uma grande rede de espionagem, que era formada por funcionários do governo. Eles ficaram conhecidos como “os olhos e ouvidos do rei”. Esta organização de cobrança de impostos, administradores locais e funcionários estatais auxiliando o império mesmo nas localidades mais distantes deu tão certo que séculos depois o macedônio Alexandre, o Grande conquistou a região e continuou utilizando a estrutura administrativa dos persas. Ciro foi também o responsável pela libertação dos judeus do cativeiro da Babilônia, iniciando uma série de acontecimentos que culminaram com a reconstrução de Jerusalém.
Ciro morreu em 530 a.E.C., no meio de uma batalha contra os massagetas, uma tribo semi-nômade que vivia na região próxima ao Mar Cáspio e o Mar de Aral. Ciro foi aconselhado por Creso, ex-rei da Lídia, a atacar os massagetas, pois suas forças poderiam, um dia, ameaçar as fronteiras do Império Persa. Então Ciro enviou uma comitiva diplomática para oferecer uma proposta de casamento para a rainha dos massagetas, Tomiris, que não foi aceito. Ciro então invadiu o território dos massagetas e foi desafiado para uma luta honrada pela rainha. Só que ao saber da pouca familiaridade dos massagetas com o vinho, Ciro deixou poucos homens, muita comida e muito vinho em um acampamento e simulou uma fuga. Um dos generais de Tomiris – e que também era seu filho – Spargapise, invadiu o acampamento, matou os poucos soldados que ali estavam e deixou seus subordinados aproveitarem a comida e a bebida deixada pelos persas.
Os soldados massagetas, bêbados, foram presa fácil para os soldados persas que retornaram no meio da noite. Spargapise, envergonhado com a derrota, cometeu suicídio. A rainha Tomiris, jurando vingança pela morte do filho, liderou seu exército em uma grande batalha contra os persas. Após uma violenta batalha onde morreram muitos persas, Ciro também caiu frente ao exército massageta. Tomiris então pediu que a cabeça de Ciro fosse trazida até ela, que pegou-a e colocou dentro de uma bacia com sangue. Segundo a própria rainha, aquilo era para “matar a sede de sangue do rei persa”. Uma outra história conta que Ciro morreu serenamente em Pasárgada, cidade que era a capital do Império Persa sob o reinado de Ciro. Na verdade existem diversas versões da morte de Ciro, e muitas relatam a derrota militar das tropas persas que acompanhavam o rei e sua morte em batalha. De qualquer forma, se morto enquanto lutava, Ciro teve seu corpo resgatado por soldados persas e hoje descansa em uma tumba nas ruínas de Pasárgada, que estão em pé até hoje. O filho de Ciro, Cambises II, assumiu o lugar do pai e continuou os planos de expansão do Império Persa. Mas toda a região só teria novas mudanças realmente significativas sob o reinado de Dario, o próximo rei persa.
*Texto contido no Cilindro de Ciro, artefato arqueológico que serviu, na época, como um decreto do imperador. Foi encontrado na região da Babilônia e hoje em dia está em exposição no Museu Britânico de Londres.

Fontes: HAMMOND, N.G.L..O Gênio de Alexandre o Grande. São Paulo: Madras, 2005. HOLLAND, Tom. Fogo Persa. Rio de Janeiro: Record, 2008.

terça-feira, 22 de julho de 2014

HISTÓRIA DAS CIVILIZAÇÕES - CONFLITOS DO ORIENTE MÉDIO I

Aspectos geopolíticos: Local – Assíria, Mesopotâmia, Babilônia, Iraque, Irã, Jerusalém. Povos – Assírios, Medos, Persas, Macedônio, Hebreus. Datas – 670 a.E.C. (antes da era comum) na visão cristã a.C. (antes de cristo)

Nabucodonosor II governou durante 42 anos o Segundo Império Babilônico. Ficou famoso pela construção dos Jardins Suspensos da Babilônia e pela destruição de Jerusalém e seu Templo.

Nabucodonosor II ou Nebucadrezar (632 a.E.C. a 562 a.E.C.) é o filho e sucessor do Rei Nabopolasar, que fundou o segundo império babilônico (ou caldeu), sobre as ruínas do Império Assírio. Seu nome em hebraico, nebukadrezzar, é a transliteração do acadiano, Nabu-cudurri-utsur, que talvez signifique “Nabu (deus) protegeu os direitos de sucessão ou minha herança”. No latim temos Nabukodenesor. Deste vem o nome em português. Houve dois reis babilônicos com esse nome: Nabucodonosor I, que reinou entre 1146 e 1123 a.E.C.; e Nabucodonosor II, a figura mais famosa, que é mencionado na bíblia, que reinou de 604 a 562 a.E.C..
Após a morte do rei assírio Assurbanipal, em 631 a.E.C., o Império Assírio entrou em declínio, devido às revoltas dos povos dominados. O rei caldeu Nabopolassar adotou uma política expansionista, com o intuito de recuperar o antigo poder da Babilônia. Auxiliado pelo rei dos Medos, Ciaxares, combateu a Assíria e derrotou o seu exército, em 616 e 615 a. E.C., em Arapka. Logo após, tenta apoderar-se de Assur, sem êxito, e alia-se definitivamente aos Medos. Em 612 a. E.C. conquistou e arruinou Nínive.
Os territórios conquistados foram partilhados entre os dois monarcas, conseguindo a Babilônia reconstruir o seu antigo império. Durante o reinado de seu pai, Nabucodonosor fora o príncipe-herdeiro da Babilônia.
Nabucodonosor casou-se em 612 a.E.C. com Amitis (Amu-hia), filha de Ciáxares, rei da Média. Teve pelo menos três filhos: Amel-Marduque (também chamado Evil-Meredoque), que o sucedeu no trono, Marduque-Sum-Usur e Nabu-Suma-Lisir.
Continuando sozinho as suas investidas, Nabopolassar ordenou a seu filho Nabucodonosor a conquista da Síria. O que resta do Império Assírio sucumbe definitivamente em 605 a.E.C. Nabopolassar empenhou-se em reprimir os intentos egípcios de restabelecer seu império no Oriente Próximo e após uma série de lutas, seu filho, Nabucodonosor, derrotou totalmente os egípcios na Batalha de Carchemish em 605 a. E.C.. Nabucodonosor conquistou totalmente Hati, ou seja, a Síria e a Palestina, conforme comenta o historiador Flávio Josefo. Nabucodonosor estava ocupado em guerras, quando seu pai faleceu; então voltou e foi coroado rei. Durante o reinado de Nabucodonosor, que durou de 604 a.E.C. a 562 a.E.C., o Segundo Império Babilônico viveu o seu período mais glorioso. Deu continuidade à época de prosperidade e hegemonia babilônicas.
Nabucodonosor II expandiu seu império, conquistando boa parte da Cilícia, Síria, Fenícia e Judeia. Líder militar de grande energia e crueldade, aniquilou os fenícios, derrotou os egípcios e obteve a hegemonia no Oriente Médio.
Investindo pesado no seu exército, lutou por mais de trinta anos para conquistar os territórios da Assíria, Fenícia, parte da Arábia, Palestina, Síria e Elam, tornando-se a maior liderança do Oriente Médio da Antiguidade.
Em 604 a.E.C., ele começou a receber tributos da Síria, Damasco, Tiro e Sidom. Jeoaquim, rei de Judá, foi seu vassalo por três anos (II Rs 24:1; Jr 25:1). Em 599 a.E.C. Nabucodonosor derrotou as tribos árabes de Quedar e do leste do rio Jordão (Jr 49: 28 – 33). Em 598 a.E.C. conquistou Jerusalém e levou em cativeiro seus habitantes ( II Reis cap. 25 e Daniel cap. 1). Entre os anos 587 a.C. e 586 a.C., os exércitos de Nabucodonosor destruíram Jerusalém. Tanto as muralhas da cidade quanto o Templo foram destruídos. O resto da cidade ficou em ruínas durante pouco mais de um século. Os sobreviventes são conduzidos para Babilônia.

Fontes: HAMMOND, N.G.L..O Gênio de Alexandre o Grande. São Paulo: Madras, 2005. HOLLAND, Tom. Fogo Persa. Rio de Janeiro: Record, 2008.