quinta-feira, 23 de outubro de 2014

SER TERRA FÉRTIL

O mestre abriu as abas do lenço delicadamente, e o conteúdo não deixou de causar surpresa: eram sementes.
Nenhum saber – disse o mestre com calma e autoridade – pode ser passado de forma pronta ou finalizada. O conhecimento é sempre, e sempre, uma semente. E, da mesma forma que a semente, o conhecimento precisa do agricultor, que é aquele que planta, rega e aduba, mas precisa mais do que tudo, da terra em que é colocado. Sem chão o conhecimento não se desenvolve, não cresce, não vira árvore. E, ser chão, ser terra fértil, é trabalhoso, é pesado. O trabalho da terra é sempre o mais pesado, pois ao contrário do agricultor que tudo tira do ambiente, a terra tem que tirar de si mesma os nutrientes para que o saber vire conhecimento e este venha a ser, após longos e longos anos, sabedoria. Por favor, peguem cada um, uma das sementes. O papel delas é o de lembrá-los do que agora digo, mas também é de dar esperança. Pois toda a semente, por mais insignificante que seja, tem dentro dela uma planta adulta. Ela está lá, bem no fundo, latente e forte. O papel da semente é somar-se a terra e não de lutar contra ela.

Texto adaptado de Nikelen Witter (2012).

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

13 de outubro de 1307

Por volta de 1306, Filipe IV, da França – Filipe, o Belo -, estava ansioso para livrar seu território dos templários, arrogantes e impulsivos, eficientemente treinados, um contingente militar muito mais forte e mais organizado do que qualquer outro que o próprio rei poderia reunir. Eles estavam solidamente estabelecidos em toda a França, e naquela época até mesmo sua fidelidade ao papa era apenas formal. Filipe não exercia nenhum controle sobre a ordem. E lhe devia dinheiro. Tinha sido humilhado por ela, quando, fugindo de uma rebelião em Paris, fora obrigado a buscar refúgio na preceptoria do Templo. Ele desejava a riqueza imensa do Templo que, durante sua estadia no local, tornou-se flagrante. Havendo solicitado sua inclusão na ordem como postulante, o rei sofreu a indignidade de ser desdenhosamente rejeitado. Estes fatos - juntamente, é claro, com a perspectiva alarmante de um Estado templário independente em suas vizinhanças - foram suficientes para induzir Filipe a agir. Heresia era um pretexto conveniente.

Primeiro, Filipe precisava conseguir a cooperação do papa, a quem, pelo menos em teoria, os templários deviam fidelidade e obediência. Entre 1303 e 1305, o rei francês e seus ministros engendraram o rapto e a morte de um papa (Bonifácio VIII) e muito provavelmente a morte por envenenamento de outro (Benedito XI). Então, em 1305, Filipe conseguiu assegurar a eleição de seu próprio candidato, o arcebispo de Bordeaux, para o trono papal vago. O novo pontífice tomou o nome de Clemente V. Comprometido com a influência de Filipe, ele não podia recusar as solicitações deste. E essas solicitações incluíam a supressão dos templários.

Filipe planejou seus movimentos cuidadosamente. Uma lista de acusações foi compilada, em parte por espiões infiltrados na ordem, em parte por confissão voluntária de um suposto templário renegado. Armado dessas acusações, Filipe podia finalmente agir. Quando atacou, o fez de modo súbito, rápido e letal. Numa operação de segurança digna das SS ou da Gestapo, o rei enviou ordens secretas e seladas aos seus senescais em todo o país. Elas deveriam ser abertas em todos os lugares simultaneamente e implementadas imediatamente. Na madrugada de 13 de outubro de 1307, todos os templários na França deveriam ser capturados e presos pelos homens do rei, as preceptorias colocadas sob guarda real e seus bens confiscados. O objetivo de surpreender foi atingido, mas seu principal interesse – a imensa fortuna da ordem – lhe escapou. Ela jamais foi encontrada. O que aconteceu com o fabuloso tesouro dos templários permaneceu um mistério.


Hoje, (707 anos) sete séculos após a ação criminosa de Filipe, em conivência com a Igreja Católica Apostólica Romana, a Ordem do Templo mantem seus valores morais e éticos no mundo inteiro.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

HISTÓRIA DAS CIVILIZAÇÕES - CONFLITOS DO ORIENTE MÉDIO II

Aspectos geopolíticos: Local – Assíria, Mesopotâmia, Babilônia, Iraque, Irã, Jerusalém. Povos – Assírios, Medos, Persas, Macedônio, Hebreus. Datas – 560 a.E.C. (antes da era comum) na visão cristã a.C. (antes de cristo)

Segundo Heródoto, o avô de Ciro, Astíages, último rei do Império Medo, teria sonhado que seu neto destruiria o reino e dominaria toda a Ásia. Astíages então mandou que seu serviçal pegasse a criança e a matasse nas montanhas. Harpago, na época o serviçal, ficou com pena de Ciro e entregou a criança para um pastor, que acabou cuidando de Ciro por um tempo até que ele teve plena consciência de sua linhagem real.
A mãe de Ciro, Mandane, era filha de Astíages, mas seu pai, Cambises, era um nobre que controlava a Pérsia, região onde hoje fica o atual estado do Irã e era, na época, um reino submisso aos medos. Quando Ciro chegou ao poder na Pérsia, em 559 a.E.C., ele uniu-se a Harpago e comandou uma revolta contra Astíages.
Harpago desejava a vingança contra Astíages, já que o rei, sabendo do não cumprimento da ordem por parte de seu serviçal, mandou matar o filho deste. Derrotado, Astíages foi mandado à presença de Ciro para julgamento, mas o neto acabou perdoando o avô. Sem um rei para fazer frente à ocupação, Ciro invadiu Ecbátana, capital da Média, e tomou o poder da vasta área já controlada pelos medos.
Ciro, ao controlar toda a região antes submissa aos medos, fundou o Império Persa e passou a reinar em uma vasta área que ia da Capadócia, no oeste, até a Ária, a leste, também fazendo fronteira com os montes Cáucasos ao norte e a Assíria e a Babilônia ao sul.
Mas Ciro não ficou sentado em seu trono esperando os inimigos invadirem o império e tumultuarem o ambiente interno, além de aguardar o crescimento populacional de seu povo que, na época, era um assunto que já exigia muita atenção do rei.
Ciro partiu para as campanhas de conquista, buscando terras para ampliar cada vez mais as plantações e os espaços para criação de gado e outros animais além, claro, da busca por submeter novos povos ao pagamento de impostos. A primeira grande conquista militar de Ciro aconteceu em 546 a.E.C. e foi na região da Lídia e das colônias gregas da Ásia Menor, territórios que os medos tentaram conquistar por décadas sem sucesso. Depois Ciro conquistou a região do Turquestão, a leste, expandindo ainda mais o território. Em 539 a.E.C. Ciro conquistou a região da Babilônia e o fato ajudou suas relações com os fenícios e os hebreus, povos que viviam sob o domínio dos governantes da Babilônia. Ao conquistar a região, Ciro teria proclamado:
“Eu sou Ciro, rei do mundo, grande rei, rei legítimo, rei de Babilônia, rei da Suméria e de Acade, rei das quatro extremidades, filho de Cambises, grande rei, rei de Anzã, . . . descendente de Teíspes . . . de uma família [que] sempre [exerceu] a realeza.”*
Ciro foi um imperador habilidoso tanto na conquista como na administração e manutenção dos povos conquistados. Seus exércitos usavam táticas de invasão com apoio de arqueiros e cavaleiros. Os soldados invadiam as cidades e fortalezas em blocos, dificultando a defesa dos inimigos.
Após a conquista, Ciro procurava manter os líderes locais em seus devidos cargos administrativos, demonstrando piedade para com os vencidos e não proibia o culto do povo, ou seja: havia muita tolerância religiosa. Se traçarmos um paralelo com os dias de hoje, podemos observar que na região a tolerância religiosa é bem pequena, quase nula, diferente do tempo em que os persas dominavam. O Império Persa cobrava impostos dos povos dominados e estes sim deveriam ser pagos com frequência religiosa. Alguns líderes eram levados para trabalhar em posições superiores na hierarquia persa. Cada região ficava sob o comando de um sátrapa, que era o principal governante local – uma espécie de secretário-geral, ou até mesmo um governador da região -, e muitos deles eram os próprios reis locais, que Ciro designava como sátrapa. Esta decisão fazia com que os povos conquistados tivessem relativa autonomia interna, mesmo dominados pelos persas. Para impedir a corrupção, Ciro ordenou que fosse montada uma grande rede de espionagem, que era formada por funcionários do governo. Eles ficaram conhecidos como “os olhos e ouvidos do rei”. Esta organização de cobrança de impostos, administradores locais e funcionários estatais auxiliando o império mesmo nas localidades mais distantes deu tão certo que séculos depois o macedônio Alexandre, o Grande conquistou a região e continuou utilizando a estrutura administrativa dos persas. Ciro foi também o responsável pela libertação dos judeus do cativeiro da Babilônia, iniciando uma série de acontecimentos que culminaram com a reconstrução de Jerusalém.
Ciro morreu em 530 a.E.C., no meio de uma batalha contra os massagetas, uma tribo semi-nômade que vivia na região próxima ao Mar Cáspio e o Mar de Aral. Ciro foi aconselhado por Creso, ex-rei da Lídia, a atacar os massagetas, pois suas forças poderiam, um dia, ameaçar as fronteiras do Império Persa. Então Ciro enviou uma comitiva diplomática para oferecer uma proposta de casamento para a rainha dos massagetas, Tomiris, que não foi aceito. Ciro então invadiu o território dos massagetas e foi desafiado para uma luta honrada pela rainha. Só que ao saber da pouca familiaridade dos massagetas com o vinho, Ciro deixou poucos homens, muita comida e muito vinho em um acampamento e simulou uma fuga. Um dos generais de Tomiris – e que também era seu filho – Spargapise, invadiu o acampamento, matou os poucos soldados que ali estavam e deixou seus subordinados aproveitarem a comida e a bebida deixada pelos persas.
Os soldados massagetas, bêbados, foram presa fácil para os soldados persas que retornaram no meio da noite. Spargapise, envergonhado com a derrota, cometeu suicídio. A rainha Tomiris, jurando vingança pela morte do filho, liderou seu exército em uma grande batalha contra os persas. Após uma violenta batalha onde morreram muitos persas, Ciro também caiu frente ao exército massageta. Tomiris então pediu que a cabeça de Ciro fosse trazida até ela, que pegou-a e colocou dentro de uma bacia com sangue. Segundo a própria rainha, aquilo era para “matar a sede de sangue do rei persa”. Uma outra história conta que Ciro morreu serenamente em Pasárgada, cidade que era a capital do Império Persa sob o reinado de Ciro. Na verdade existem diversas versões da morte de Ciro, e muitas relatam a derrota militar das tropas persas que acompanhavam o rei e sua morte em batalha. De qualquer forma, se morto enquanto lutava, Ciro teve seu corpo resgatado por soldados persas e hoje descansa em uma tumba nas ruínas de Pasárgada, que estão em pé até hoje. O filho de Ciro, Cambises II, assumiu o lugar do pai e continuou os planos de expansão do Império Persa. Mas toda a região só teria novas mudanças realmente significativas sob o reinado de Dario, o próximo rei persa.
*Texto contido no Cilindro de Ciro, artefato arqueológico que serviu, na época, como um decreto do imperador. Foi encontrado na região da Babilônia e hoje em dia está em exposição no Museu Britânico de Londres.

Fontes: HAMMOND, N.G.L..O Gênio de Alexandre o Grande. São Paulo: Madras, 2005. HOLLAND, Tom. Fogo Persa. Rio de Janeiro: Record, 2008.

terça-feira, 22 de julho de 2014

HISTÓRIA DAS CIVILIZAÇÕES - CONFLITOS DO ORIENTE MÉDIO I

Aspectos geopolíticos: Local – Assíria, Mesopotâmia, Babilônia, Iraque, Irã, Jerusalém. Povos – Assírios, Medos, Persas, Macedônio, Hebreus. Datas – 670 a.E.C. (antes da era comum) na visão cristã a.C. (antes de cristo)

Nabucodonosor II governou durante 42 anos o Segundo Império Babilônico. Ficou famoso pela construção dos Jardins Suspensos da Babilônia e pela destruição de Jerusalém e seu Templo.

Nabucodonosor II ou Nebucadrezar (632 a.E.C. a 562 a.E.C.) é o filho e sucessor do Rei Nabopolasar, que fundou o segundo império babilônico (ou caldeu), sobre as ruínas do Império Assírio. Seu nome em hebraico, nebukadrezzar, é a transliteração do acadiano, Nabu-cudurri-utsur, que talvez signifique “Nabu (deus) protegeu os direitos de sucessão ou minha herança”. No latim temos Nabukodenesor. Deste vem o nome em português. Houve dois reis babilônicos com esse nome: Nabucodonosor I, que reinou entre 1146 e 1123 a.E.C.; e Nabucodonosor II, a figura mais famosa, que é mencionado na bíblia, que reinou de 604 a 562 a.E.C..
Após a morte do rei assírio Assurbanipal, em 631 a.E.C., o Império Assírio entrou em declínio, devido às revoltas dos povos dominados. O rei caldeu Nabopolassar adotou uma política expansionista, com o intuito de recuperar o antigo poder da Babilônia. Auxiliado pelo rei dos Medos, Ciaxares, combateu a Assíria e derrotou o seu exército, em 616 e 615 a. E.C., em Arapka. Logo após, tenta apoderar-se de Assur, sem êxito, e alia-se definitivamente aos Medos. Em 612 a. E.C. conquistou e arruinou Nínive.
Os territórios conquistados foram partilhados entre os dois monarcas, conseguindo a Babilônia reconstruir o seu antigo império. Durante o reinado de seu pai, Nabucodonosor fora o príncipe-herdeiro da Babilônia.
Nabucodonosor casou-se em 612 a.E.C. com Amitis (Amu-hia), filha de Ciáxares, rei da Média. Teve pelo menos três filhos: Amel-Marduque (também chamado Evil-Meredoque), que o sucedeu no trono, Marduque-Sum-Usur e Nabu-Suma-Lisir.
Continuando sozinho as suas investidas, Nabopolassar ordenou a seu filho Nabucodonosor a conquista da Síria. O que resta do Império Assírio sucumbe definitivamente em 605 a.E.C. Nabopolassar empenhou-se em reprimir os intentos egípcios de restabelecer seu império no Oriente Próximo e após uma série de lutas, seu filho, Nabucodonosor, derrotou totalmente os egípcios na Batalha de Carchemish em 605 a. E.C.. Nabucodonosor conquistou totalmente Hati, ou seja, a Síria e a Palestina, conforme comenta o historiador Flávio Josefo. Nabucodonosor estava ocupado em guerras, quando seu pai faleceu; então voltou e foi coroado rei. Durante o reinado de Nabucodonosor, que durou de 604 a.E.C. a 562 a.E.C., o Segundo Império Babilônico viveu o seu período mais glorioso. Deu continuidade à época de prosperidade e hegemonia babilônicas.
Nabucodonosor II expandiu seu império, conquistando boa parte da Cilícia, Síria, Fenícia e Judeia. Líder militar de grande energia e crueldade, aniquilou os fenícios, derrotou os egípcios e obteve a hegemonia no Oriente Médio.
Investindo pesado no seu exército, lutou por mais de trinta anos para conquistar os territórios da Assíria, Fenícia, parte da Arábia, Palestina, Síria e Elam, tornando-se a maior liderança do Oriente Médio da Antiguidade.
Em 604 a.E.C., ele começou a receber tributos da Síria, Damasco, Tiro e Sidom. Jeoaquim, rei de Judá, foi seu vassalo por três anos (II Rs 24:1; Jr 25:1). Em 599 a.E.C. Nabucodonosor derrotou as tribos árabes de Quedar e do leste do rio Jordão (Jr 49: 28 – 33). Em 598 a.E.C. conquistou Jerusalém e levou em cativeiro seus habitantes ( II Reis cap. 25 e Daniel cap. 1). Entre os anos 587 a.C. e 586 a.C., os exércitos de Nabucodonosor destruíram Jerusalém. Tanto as muralhas da cidade quanto o Templo foram destruídos. O resto da cidade ficou em ruínas durante pouco mais de um século. Os sobreviventes são conduzidos para Babilônia.

Fontes: HAMMOND, N.G.L..O Gênio de Alexandre o Grande. São Paulo: Madras, 2005. HOLLAND, Tom. Fogo Persa. Rio de Janeiro: Record, 2008.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

O Xamã

HISTÓRIA DAS RELIGIÕES
O Xamã
O xamanismo é um termo genericamente usado em referência a práticas etnomédicas, mágicasreligiosas animista, primitivas e filosóficas (metafísica), envolvendo cura, transe, supostas metamorfoses e contato direto entre corpos e espíritos de outros xamãs, de seres míticos, de animais, dos mortos. Muitas de nossas tradições, crenças e simbologias arquetípicas parecem ter evoluído do xaminismo primitivo.
Segundo Gardiner e Osborn (2008), a palavra xamã vem do russo tungúsino, a língua falada pelos tungues nômades da Sibéria e corresponde às práticas dos povos não budistas das regiões asiáticas e árticas especialmente a Sibéria (região centro norte da Ásia). Apesar, como assinala Mircea Eliade (1992) da especificidade dessas práticas na região (em especial as técnicas do êxtase dos tungues, Iacutes, mongóis e turco-tártaros), não existe, contudo origem histórica ou geográfica para o xamanismo como conhecido hoje, tampouco algum princípio unificador. Alguns afirmam que o termo procede também do páli samana e por fim do antigo sâncrito sramana, significando “alguém que sabe”, ou possivelmente de um termo eslavônico denotando a prática dos samoiedos da Sibéria, com o sentido de “ficar estimulado”. Antropólogos discutem ainda na definição xamanismo a experiência biopsicossocial do transe e êxtase religioso, bem como as implicações sociais da definição do xamanismo como fato social. É considerada uma tradição equivalente à magia enquanto prática individualizada relacionada aos problemas e técnicas e ciência da sobrevivência cotidiana (agricultura, caça, medicina, etc.) ou ao fenômeno religioso, abstrato, coletivo, normatizador.
sacerdote do xamanismo é o xamã, que geralmente entra em transe durante rituais xamânicos, manifestando poderes incomuns, invocando espíritos, através de objetos rituais, do próprio corpo ou do corpo de assistentes e pacientes. A comunicação com estes aspectos sutis da vida pode se processar através de estados alterados de consciência. Estados esses alcançados através de batidas de tambor, danças e até ervas enteógenas.
As variações "culturais" são muitas, mas em geral, o xamã pode ser homem ou mulher, a depender da cultura, e muitas vezes há na história pessoal desse indivíduo um desafio, como uma doença física ou mental, que se configura como um chamado, uma vocação. Depois disto há uma longa preparação, um aprendizado sobre plantas medicinais e outros métodos de cura, e sobre técnicas para atingir o estado alterado de consciência e formas de se proteger contra o descontrole.

O xamã é tido como um profundo conhecedor da natureza humana, tanto na parte física quanto psíquica.

domingo, 5 de janeiro de 2014

A comunidade de Qumrun

HISTÓRIA DAS RELIGIÕES
A comunidade de Qumran e o pensamento nazoreano!
O nome árabe da localidade é Hirbet Qumrãn. Trata-se de um grupo de ruínas ao pé das montanhas do deserto da Judéia e a 500 metros das margens do Mar Morto, não muito longe de Jericó a 40 quilômetros de Jerusalém. Foi ignorado por muito tempo, mas entrou como protagonista no mundo bíblico a partir de 1947, quando descobriu-se, por acaso, grutas em volta da localidade, que guardavam no seu interior os assim chamados “manuscritos do Mar Morto”.
Graças ao trabalho dos arqueólogos foi possível descobrir que no local residia uma particular comunidade que, como mostram as evidências, quando estourou a guerra entre judeus e romanos, nos anos 60-70 d.C., escondeu, nas grutas próximas, os textos que lhe pertenciam. Por causa dessa descoberta o nosso conhecimento do judaísmo do tempo de Jesus foi enriquecido de forma espetacular. Também o início do cristianismo e o Novo Testamento puderam ser considerados sob novas perspectivas e o texto do Antigo Testamento ganhou um testemunho privilegiado.
Os textos foram encontrados por um pastor árabe, que procurava recuperar uma cabra que tinha se separado do rebanho. Por acaso descobriu um buraco no barranco. Jogou uma pedra e escutou o barulho de vasos de cerâmica que se quebravam. Os pastores, nos dias seguintes, pensavam ter descoberto um tesouro, mas ficaram frustrados, pois acharam apenas alguns pergaminhos amarrados e um pouco fragmentados por causa do tempo. Eles na prática encontraram os primeiros 7 pergaminhos do Mar Morto. Em 1955 o governo de Israel anuncia que comprou todos os 7 manuscritos e que seriam conservados num museu especial, chamado Santuário do Livro, onde estão até hoje.
A descoberta dos manuscritos levou muitos arqueólogos a interessar-se pelo local onde foram encontrados. Já em 1949 teve início uma expedição oficial, que encontrou mais 10 grutas que também escondiam pergaminhos. Depois dessas primeiras descobertas a atenção foi dada às ruínas próximas às grutas, que se pensava fossem somente os restos de uma fortaleza romana. Depois das escavações o parecer é quase unânime: foi ali que nasceram todos os manuscritos encontrados, fruto do lavoro de uma comunidade que viveu naquele local entre os anos 125 a.E.C. e 68 d.E.C.. Os pergaminhos teriam sido escondidos com pressa naquelas grutas, enquanto a suposta comunidade escapava da invasão do exército romano, que se encontrava na Judéia para abafar a revolta judaica.
A origem da comunidade provavelmente tem a ver com conflitos no templo de Jerusalém entre os sacerdotes. O líder da comunidade de Qumrãn, chamado nos manuscritos de “Mestre de Justiça”, era um sacerdote que lutava para implantar uma observância mais rigorosa da Lei nos atos litúrgicos em Jerusalém. Em particular pretendia substituir o calendário lunar com o solar. Isso teria permitido observar de modo mais estrito o sábado, pois desse modo às festas não cairiam nunca nesse dia. Com propostas como esta esse personagem, de quem não se conhece o nome, entra em conflito com os asmoneus, que unificaram o poder religioso àquele político e decide abandonar Jerusalém e vai viver no deserto, com seus seguidores, para preparar-se ao fim do mundo, que julgava estar próximo.
A comunidade provavelmente não era pequena, pois os túmulos encontrados são mais de 1000. Para se sustentar trabalhavam na agricultura nas proximidades das atuais ruínas e dividiam aquilo que possuíam.

Os homens de Qumrãn acreditavam firmemente na assim chamada “doutrina das últimas coisas”: se preparavam para um juízo eminente onde os seus inimigos seriam derrotados e eles, escolhidos por Deus, venceriam, segundo a promessa dos profetas. É nesse contexto que precisa colocar a doutrina sobre o Messias, muito presente nos textos do Mar Morto. Eles acreditavam em 3 messias: um profeta, outro sacerdote e o terceiro rei ou príncipe. Na Regra da Comunidade, um dos documentos encontrados, se diz que o membro da comunidade deve viver sob a Lei até a chegada do profeta e dos messias de Aarão e Israel. Essas três figuras apareceriam antes dos últimos dias, que a comunidade atendia. No documento chamado Testemunho são citadas algumas passagens da Bíblia que sustentam a doutrina messiânica: Dt 18,18-19 – Deus diz a Moisés: suscitarei um profeta como ti entre teus irmãos”; Nm 24,15-17: Balaã prevê que aparecerá um príncipe conquistador; o terceiro texto é a bênção pronunciada por Moisés sobre a tribo de Levi, tribo sacerdotal (Dt 33,8-11).
No fim dos tempos, os homens de Qumrãn atendiam a batalha final na qual eles, os filhos da luz, lutariam contra os filhos das trevas. Portanto a teologia de Qumran é baseada num dualismo exagerado. A pureza cultual e a observância radical da Lei serviam como preparação à guerra final.