Aspectos geopolíticos: Local –
Assíria, Mesopotâmia, Babilônia, Iraque, Irã, Jerusalém. Povos – Assírios,
Medos, Persas, Macedônio, Hebreus. Datas – 560 a.E.C. (antes da era comum) na
visão cristã a.C. (antes de cristo)
Segundo Heródoto, o avô de Ciro, Astíages, último
rei do Império Medo, teria sonhado que seu neto destruiria o reino e dominaria
toda a Ásia. Astíages então mandou que seu serviçal pegasse a criança e a
matasse nas montanhas. Harpago, na época o serviçal, ficou com pena de Ciro e
entregou a criança para um pastor, que acabou cuidando de Ciro por um tempo até
que ele teve plena consciência de sua linhagem real.
A mãe de Ciro, Mandane, era filha de Astíages, mas
seu pai, Cambises, era um nobre que controlava a Pérsia, região onde hoje fica
o atual estado do Irã e era, na época, um reino submisso aos medos. Quando Ciro
chegou ao poder na Pérsia, em 559 a.E.C., ele uniu-se a Harpago e comandou uma
revolta contra Astíages.
Harpago desejava a vingança contra Astíages, já que
o rei, sabendo do não cumprimento da ordem por parte de seu serviçal, mandou
matar o filho deste. Derrotado, Astíages foi mandado à presença de Ciro para
julgamento, mas o neto acabou perdoando o avô. Sem um rei para fazer frente à
ocupação, Ciro invadiu Ecbátana, capital da Média, e tomou o poder da vasta
área já controlada pelos medos.
Ciro, ao controlar toda a região
antes submissa aos medos, fundou o Império Persa e passou a reinar em uma vasta área
que ia da Capadócia, no oeste, até a Ária, a leste, também fazendo fronteira
com os montes Cáucasos ao norte e a Assíria e a Babilônia ao sul.
Mas Ciro não ficou sentado em seu trono esperando
os inimigos invadirem o império e tumultuarem o ambiente interno, além de aguardar o
crescimento populacional de seu povo que, na época, era um assunto que já
exigia muita atenção do rei.
Ciro partiu para as campanhas de
conquista, buscando terras para ampliar cada vez mais as
plantações e os espaços para criação de gado e outros animais além, claro, da
busca por submeter novos povos ao pagamento de impostos. A primeira grande
conquista militar de Ciro aconteceu em 546 a.E.C. e foi na região da Lídia e das colônias gregas da Ásia Menor,
territórios que os medos tentaram conquistar por décadas sem sucesso. Depois
Ciro conquistou a região do Turquestão, a leste, expandindo ainda mais o
território. Em 539 a.E.C. Ciro conquistou a região da Babilônia e
o fato ajudou suas relações com os fenícios e os hebreus, povos que viviam sob o domínio dos
governantes da Babilônia. Ao conquistar a região, Ciro teria proclamado:
“Eu sou Ciro, rei do mundo, grande rei, rei
legítimo, rei de Babilônia, rei da Suméria e de Acade, rei das quatro
extremidades, filho de Cambises, grande rei, rei de Anzã, . . . descendente de
Teíspes . . . de uma família [que] sempre [exerceu] a realeza.”*
Ciro foi um imperador habilidoso tanto na conquista
como na administração e manutenção dos povos conquistados. Seus exércitos
usavam táticas de invasão com apoio de arqueiros e cavaleiros. Os soldados
invadiam as cidades e fortalezas em blocos, dificultando a defesa dos inimigos.
Após a conquista, Ciro procurava manter os líderes locais em seus devidos
cargos administrativos, demonstrando piedade para
com os vencidos e não proibia o culto do povo, ou seja: havia muita tolerância religiosa. Se traçarmos um paralelo com os dias
de hoje, podemos observar que na região a tolerância religiosa é bem pequena,
quase nula, diferente do tempo em que os persas dominavam. O Império Persa cobrava impostos dos povos dominados e estes sim
deveriam ser pagos com frequência religiosa.
Alguns líderes eram levados para trabalhar em posições superiores na hierarquia
persa. Cada região ficava sob o comando de um sátrapa, que era
o principal governante local – uma espécie de secretário-geral, ou até mesmo um
governador da região -, e muitos deles eram os próprios reis locais, que Ciro
designava como sátrapa. Esta decisão fazia com que os povos conquistados
tivessem relativa autonomia interna, mesmo dominados pelos persas. Para impedir a corrupção,
Ciro ordenou que fosse montada uma grande rede de espionagem,
que era formada por funcionários do governo. Eles ficaram conhecidos como “os
olhos e ouvidos do rei”. Esta organização de cobrança de impostos, administradores
locais e funcionários estatais auxiliando o império mesmo nas localidades mais
distantes deu tão certo que séculos depois o macedônio Alexandre, o Grande conquistou a região e continuou
utilizando a estrutura administrativa dos persas. Ciro foi também o responsável
pela libertação
dos judeus do cativeiro da Babilônia, iniciando uma série de
acontecimentos que culminaram com a reconstrução de Jerusalém.
Ciro morreu em 530 a.E.C., no meio de uma batalha
contra os massagetas, uma
tribo semi-nômade que vivia na região próxima ao Mar Cáspio e o Mar de Aral.
Ciro foi aconselhado por Creso, ex-rei da Lídia, a atacar os massagetas, pois
suas forças poderiam, um dia, ameaçar as fronteiras do Império Persa. Então
Ciro enviou uma comitiva diplomática para oferecer uma proposta de casamento
para a rainha dos massagetas, Tomiris, que não
foi aceito. Ciro então invadiu o território dos massagetas e foi desafiado para
uma luta honrada pela rainha. Só que ao saber da pouca familiaridade dos
massagetas com o vinho, Ciro deixou poucos homens, muita comida e muito vinho
em um acampamento e simulou uma fuga. Um dos generais de Tomiris – e que também
era seu filho – Spargapise, invadiu o acampamento, matou os poucos soldados que
ali estavam e deixou seus subordinados aproveitarem a comida e a bebida deixada
pelos persas.
Os soldados massagetas, bêbados, foram presa fácil
para os soldados persas que retornaram no meio da noite. Spargapise,
envergonhado com a derrota, cometeu suicídio. A rainha Tomiris, jurando
vingança pela morte do filho, liderou seu exército em uma grande batalha contra
os persas. Após uma violenta batalha onde morreram muitos persas, Ciro também
caiu frente ao exército massageta. Tomiris então pediu que a cabeça de Ciro
fosse trazida até ela, que pegou-a e colocou dentro de uma bacia com sangue.
Segundo a própria rainha, aquilo era para “matar a sede de sangue do rei
persa”. Uma outra história conta que Ciro morreu serenamente em Pasárgada, cidade
que era a capital do Império Persa sob o reinado de Ciro. Na verdade existem
diversas versões da morte de Ciro, e muitas relatam a derrota militar das
tropas persas que acompanhavam o rei e sua morte em batalha. De qualquer forma,
se morto enquanto lutava, Ciro teve seu corpo resgatado por soldados persas e
hoje descansa em uma tumba nas ruínas de Pasárgada, que
estão em pé até hoje. O filho de Ciro, Cambises II, assumiu o lugar do pai e continuou os
planos de expansão do Império Persa. Mas toda a região só teria novas mudanças
realmente significativas sob o reinado de Dario, o próximo rei persa.
*Texto contido no Cilindro de Ciro, artefato arqueológico que serviu,
na época, como um decreto do imperador. Foi encontrado na região da Babilônia e
hoje em dia está em exposição no Museu Britânico de Londres.
Fontes:
HAMMOND, N.G.L..O Gênio de Alexandre o Grande. São Paulo: Madras, 2005.
HOLLAND, Tom. Fogo Persa. Rio de Janeiro: Record, 2008.
Nenhum comentário:
Postar um comentário