“Somente o
homem, dentre todas as criaturas, pode mudar sua própria vida.
A maior
descoberta dessa geração é que o ser humano, mudando as atitudes internas e sua
mente, pode mudar os aspectos externos de sua vida!”
William
James (1842-1910)
Muito, e há muito tempo se fala em Maçonaria.
No mundo profano, a história, dependendo do ponto de vista do historiador
propõe grandes feitos e épicos acontecimentos creditados a Maçonaria. Já
outros, não tão lisonjeiros com a Ordem, a ela creditam as maiores atrocidades
e despautérios. Mas então, seria a necessidade de ter sido uma sociedade
secreta em alguns momentos, ou estar formada por pessoas ligadas a outras
instituições ou mesmo outras ordens que necessitavam manterem-se no anonimato?
Difícil identificar tais razões ou mesmo motivos. Hoje com os contratos
constitutivos registrados nos respectivos órgãos de controle, a condição de
secreta não se adéqua, mas permanece o segredo que tanto atrai as pessoas.
Creio ser importante a referência do contido no
Preâmbulo da Maçonaria e como o próprio ritual apregoa, “A ser lido e explicado
em Loja, frequentemente” (2013 p. 85). “A Ordem Maçônica é uma associação de
homens esclarecidos e virtuosos que se consideram Irmãos entre si e cujo fim é
viver em perfeita igualdade, intimamente ligados por laços de recíproca estima,
confiança e amizade, estimulando-se, uns aos outros, na prática da virtude.” Manual
de Procedimentos Ritualísticos e Ritual de Instruções do Grau de Aprendiz Maçom
do REAA (2013 p.85).
Não menos importante o proposto no Escopo do
Grau de Companheiro-Maçom que exalta: “se a Liberdade é o ideal do Aprendiz,
que aspira a Luz, a Igualdade é o do
Companheiro, para que possa solidificar os sentimentos de Fraternidade.” Ritual
e Instruções Grau de Companheiro Maçom. (2004-2007 p. 9)
Segundo Rizzardo da Camino (2013, p. 43) “Três
são as imposições da jornada em direção ao Companheirismo: Trabalho, Ciência e
Virtude”, dessa forma iniciamos a caminhada do segundo grau, o de Companheiro
Maçom.
Ainda engatinhando na Ordem, mas com caráter
forjado por uma boa educação de família, escolas de excelente nível de ensino e
oportunidades que se mostraram e se mostram ao longo de uma existência baseada
principalmente em cinco pequenos conceitos que, a meu juízo, fazem a diferença:
·
Respeito:
sentimento que leva a tratar alguém ou alguma coisa com grande atenção,
profunda deferência, consideração ou reverência.
·
Disciplina: é
o laço moral que liga entre si os diversos graus da hierarquia, nasce da
dedicação pelo dever e consiste na estrita e pontual observância das leis e
regulamentos.
·
Liberdade:
constitui um direito natural do ser humano, proveniente da liberdade absoluta,
praticada em seu estado de natureza que, paulatinamente, evoluiu para o estado
civil, regido pelo contrato social idealizado por Thomas Hobbes (1588-1679),
contemplando a vontade da maioria.
·
Igualdade: é a
relação direta com os direitos fundamentais do cidadão e com a dignidade da
pessoa humana, tendo como escopo o sentido de justiça, em estreita cumplicidade
com os cânones do humanismo.
·
Fraternidade:
tem características multifacetárias, de caráter permanente, abrangendo diversos
aspectos da vida em sociedade. Uma palavra, um gesto, uma ação, a gratidão, o
reconhecimento e o compartilhamento de ideias, dentre outras virtudes, são atos
de fraternidade.
Ainda no grau 1, em consulta a um Mestre sobre
por que não “praticávamos efetivamente a fraternidade”, a sábia resposta foi
que: “a maçonaria prepara homens, não é um clube de serviços mas, que esses
homens formarão tais clubes”.
Particularmente, trago do mundo profano a
curiosidade do pesquisador pois, por muitos anos foi origem do meu sustento.
Logo, fui procurar ler mais, estudar mais, aprender o sentido e o significado
dos símbolos, das alegorias, da ritualística pra daí retirar os mais profundos
ensinamentos visto ser a Maçonaria, além de um sistema de moral um filosofia
social e espiritual.
De maneira em geral, no mundo profano, estamos
vivendo uma época em que princípios básicos de moral e ética são simplesmente
desconhecidos, ou destorcidos, ou deturpados, tendo em vista o colapso social
que proporciona um aumento geométrico na violência, causado pela falta de
oportunidade, pela impunidade e pelo exemplo de lideranças deformadas pelo
vício da corrupção.
Diariamente erramos com pequenas falhas, e
muitas vezes, procurando tirar uma vantagem ou da situação, ou de alguém ou de
alguma coisa. Faz parte a índole do brasileiro alguns dizem. Certo ou errado o
que é constatado, é que valores como respeito, disciplina, liberdade, igualdade
e fraternidade entre outros são simplesmente desconhecidos e não estimulados
nas gerações contemporâneas. Deformando assim o caráter do indivíduo que em
algum momento vai assumir uma liderança e com tal deformação a conduzirá.
Assim, uma certa citação de Alexandre, o Grande,
se mostra pertinente:
Quando, à beira da
morte, Alexandre convocou os seus generais e relatou seus 3 últimos desejos:
Que seu caixão fosse
transportado pelas mãos dos médicos da época;
Que fosse espalhado no
caminho até seu túmulo os seus tesouros conquistados (prata, ouro, pedras
preciosas...);
Que suas duas mãos
fossem deixadas balançando no ar, fora do caixão, à vista de todos.
Um dos seus generais,
admirado com esses desejos insólitos, perguntou a Alexandre quais as razões.
Alexandre explicou:
Quero que os mais
iminentes médicos carreguem meu caixão para mostrar que eles NÃO têm poder de
cura perante a morte;
Quero que o chão seja
coberto pelos meus tesouros para que as pessoas possam ver que os bens
materiais aqui conquistados, aqui permanecem;
Quero que minhas mãos
balancem ao vento para que as pessoas possam ver que de mãos vazias viemos. Alexandre, o Grande (356 a 323 a.e.c.)
Além
de todo o desprendimento, Alexandre que segundo Plutarco, foi orientado na
juventude por Aristóteles, desenvolvendo assim um particular e avançado
raciocínio e uma preferência pelas ciências como a engenharia que está baseada
na geometria. Na ótica de Da Camino, é uma das etapas a transpor pelo
companheiro maçom “e cada uma simboliza uma parte da ciência, a saber:
gramática, retórica, lógica, aritmética e geometria”. (2013, p.43)
Todas
em geral e a geometria em particular, se nos mostra a arte de medir. É nesta
etapa do desenvolvimento que o companheiro maçom inspirado na letra “G”, que
representa a imagem da inteligência universal, desenvolve o conhecimento de
medir todos os aspectos da natureza, pois esta é vital na principal construção
que é o Templo Interior, símbolo da presença de LUZ em si mesmo, no seu corpo
físico e mental, e consequentemente: espiritual.
Vários
estudiosos se dedicaram ao estudo da Geometria e muitos acreditavam e procuraram
comprovar a existência de um padrão ou proporção matemática, que na visão de
Guimarães (2016) “implantada pelo Criador entre todas as coisas e fenômenos do
Universo”. Assim como os gregos ao estabelecerem o Número de Ouro ou a Divina Proporção
que é 1,618. Já no século XV, Da Vinci em sua obra Homem Vitruviano, descreve
uma figura masculina nua, separada e simultaneamente em duas posições
sobrepostas sendo a medida da cabeça até a linha dos pés dividida pela medida
do umbigo até a linha dos pés é igual ao número 1,618 também conhecido pela
letra grega “Φ” (fi). Em alguns casos o desenho e o texto são chamados de
Cânones das Proporções.
Se
mostra claro a estreita ligação entre a Geometria e a Aritmética pois surge na
visão de Da Camino (2013, p. 124) “por intermédio das joias depositadas no
altar: compasso e esquadro auxiliadas pela régua”, é ela a responsável pela
construção de toda obra edificada. E é tamanha a importância dessa ciência-arte
que no segundo grau o maçom denomina o G.∙.A.∙.D.∙.U.∙., como o Grande
Geômetra, analisando com profundidade a letra “G”.
Por
outro lado, conforme Baigent “as instituições são tão virtuosas, ou culpadas
quanto forem os indivíduos que as compõem”. (2013, p.17)
Se
é aqui, em nossa ágora, que encontraremos a possibilidade de um desenvolvimento
individual, de tal forma a nos tornarmos pessoas mais identificadas com a Liberdade,
Igualdade e Fraternidade.
Sendo
a Maçonaria é uma sociedade de homens livres e de bons costumes. E, que lapidar
a Pedra Bruta tem como significado o desenvolvimento individual, o
aprimoramento do Templo Interior, o despertar da Iluminação. Se a base que
sustenta o edifício é a Tolerância para que Irmãos indistintamente se
reconhecem como tal, não estará faltando sairmos da teoria e efetivamente
praticarmos o que aprendemos e apregoamos na sua forma mais simples, no
cotidiano de cada um?
Hoje, me identifico muito com a alegoria da
escada em caracol, na qual um jovem, “tendo passado a adolescência como
Aprendiz e a virilidade como Companheiro, tenta, ousadamente, avançar e subir,
apesar do caminho tortuoso e a subida difícil, na esperança de, pela diligência
e pela perseverança, chegar a idade madura como um Mestre esclarecido.” (GORGS,
2004-2007 p.66)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAIGENT, Michael. O Templo e a Loja: o surgimento da
maçonaria e a herança templária. 2ª Ed. São Paulo: Madras, 2013.
D’ELIA JUNIOR, Raymundo. Maçonaria 50 Instruções de
Companheiro. São Paulo: Madras, 2015.
DA CAMINO, Rizzardo. Rito Escocês Antigo e Aceito. Grau 1º ao
33º. São Paulo: Madras, 2013.
GUIMARÃES, José
Maurício - M.'.I.'. A.'.R.'.L.'.S.'. Inconfidência 47 –
Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, Brasil.
MANUAL DE
PROCEDIMENTOS Ritualísticos e Ritual e Instruções do Grau de Aprendiz Maçom do
Rito Escocês Antigo e Aceito. Porto Alegre: GORGS, 2013.
RITUAL E INSTRUÇÕES
do Grau de Aprendiz Maçom do Rito Escocês Antigo e Aceito. Porto Alegre: GORGS,
2004-2007.
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