sexta-feira, 17 de junho de 2016

A MAÇONARIA NA ÓTICA DE UM COMPANHEIRO MAÇOM



“Somente o homem, dentre todas as criaturas, pode mudar sua própria vida.
A maior descoberta dessa geração é que o ser humano, mudando as atitudes internas e sua mente, pode mudar os aspectos externos de sua vida!”
William James (1842-1910)





Muito, e há muito tempo se fala em Maçonaria. No mundo profano, a história, dependendo do ponto de vista do historiador propõe grandes feitos e épicos acontecimentos creditados a Maçonaria. Já outros, não tão lisonjeiros com a Ordem, a ela creditam as maiores atrocidades e despautérios. Mas então, seria a necessidade de ter sido uma sociedade secreta em alguns momentos, ou estar formada por pessoas ligadas a outras instituições ou mesmo outras ordens que necessitavam manterem-se no anonimato? Difícil identificar tais razões ou mesmo motivos. Hoje com os contratos constitutivos registrados nos respectivos órgãos de controle, a condição de secreta não se adéqua, mas permanece o segredo que tanto atrai as pessoas.
Creio ser importante a referência do contido no Preâmbulo da Maçonaria e como o próprio ritual apregoa, “A ser lido e explicado em Loja, frequentemente” (2013 p. 85). “A Ordem Maçônica é uma associação de homens esclarecidos e virtuosos que se consideram Irmãos entre si e cujo fim é viver em perfeita igualdade, intimamente ligados por laços de recíproca estima, confiança e amizade, estimulando-se, uns aos outros, na prática da virtude.” Manual de Procedimentos Ritualísticos e Ritual de Instruções do Grau de Aprendiz Maçom do REAA (2013 p.85).
Não menos importante o proposto no Escopo do Grau de Companheiro-Maçom que exalta: “se a Liberdade é o ideal do Aprendiz, que aspira a Luz, a Igualdade é o do Companheiro, para que possa solidificar os sentimentos de Fraternidade.” Ritual e Instruções Grau de Companheiro Maçom. (2004-2007 p. 9)
Segundo Rizzardo da Camino (2013, p. 43) “Três são as imposições da jornada em direção ao Companheirismo: Trabalho, Ciência e Virtude”, dessa forma iniciamos a caminhada do segundo grau, o de Companheiro Maçom.
Ainda engatinhando na Ordem, mas com caráter forjado por uma boa educação de família, escolas de excelente nível de ensino e oportunidades que se mostraram e se mostram ao longo de uma existência baseada principalmente em cinco pequenos conceitos que, a meu juízo, fazem a diferença:
·         Respeito: sentimento que leva a tratar alguém ou alguma coisa com grande atenção, profunda deferência, consideração ou reverência.
·         Disciplina: é o laço moral que liga entre si os diversos graus da hierarquia, nasce da dedicação pelo dever e consiste na estrita e pontual observância das leis e regulamentos.
·         Liberdade: constitui um direito natural do ser humano, proveniente da liberdade absoluta, praticada em seu estado de natureza que, paulatinamente, evoluiu para o estado civil, regido pelo contrato social idealizado por Thomas Hobbes (1588-1679), contemplando a vontade da maioria.
·         Igualdade: é a relação direta com os direitos fundamentais do cidadão e com a dignidade da pessoa humana, tendo como escopo o sentido de justiça, em estreita cumplicidade com os cânones do humanismo.
·         Fraternidade: tem características multifacetárias, de caráter permanente, abrangendo diversos aspectos da vida em sociedade. Uma palavra, um gesto, uma ação, a gratidão, o reconhecimento e o compartilhamento de ideias, dentre outras virtudes, são atos de fraternidade.
Ainda no grau 1, em consulta a um Mestre sobre por que não “praticávamos efetivamente a fraternidade”, a sábia resposta foi que: “a maçonaria prepara homens, não é um clube de serviços mas, que esses homens formarão tais clubes”.
Particularmente, trago do mundo profano a curiosidade do pesquisador pois, por muitos anos foi origem do meu sustento. Logo, fui procurar ler mais, estudar mais, aprender o sentido e o significado dos símbolos, das alegorias, da ritualística pra daí retirar os mais profundos ensinamentos visto ser a Maçonaria, além de um sistema de moral um filosofia social e espiritual.
De maneira em geral, no mundo profano, estamos vivendo uma época em que princípios básicos de moral e ética são simplesmente desconhecidos, ou destorcidos, ou deturpados, tendo em vista o colapso social que proporciona um aumento geométrico na violência, causado pela falta de oportunidade, pela impunidade e pelo exemplo de lideranças deformadas pelo vício da corrupção.
Diariamente erramos com pequenas falhas, e muitas vezes, procurando tirar uma vantagem ou da situação, ou de alguém ou de alguma coisa. Faz parte a índole do brasileiro alguns dizem. Certo ou errado o que é constatado, é que valores como respeito, disciplina, liberdade, igualdade e fraternidade entre outros são simplesmente desconhecidos e não estimulados nas gerações contemporâneas. Deformando assim o caráter do indivíduo que em algum momento vai assumir uma liderança e com tal deformação a conduzirá.
Assim, uma certa citação de Alexandre, o Grande, se mostra pertinente:
Quando, à beira da morte, Alexandre convocou os seus generais e relatou seus 3 últimos desejos:
Que seu caixão fosse transportado pelas mãos dos médicos da época;
Que fosse espalhado no caminho até seu túmulo os seus tesouros conquistados (prata, ouro, pedras preciosas...);
Que suas duas mãos fossem deixadas balançando no ar, fora do caixão, à vista de todos.
Um dos seus generais, admirado com esses desejos insólitos, perguntou a Alexandre quais as razões. Alexandre explicou:
Quero que os mais iminentes médicos carreguem meu caixão para mostrar que eles NÃO têm poder de cura perante a morte;
Quero que o chão seja coberto pelos meus tesouros para que as pessoas possam ver que os bens materiais aqui conquistados, aqui permanecem;
Quero que minhas mãos balancem ao vento para que as pessoas possam ver que de mãos vazias viemos. Alexandre, o Grande (356 a 323 a.e.c.)

Além de todo o desprendimento, Alexandre que segundo Plutarco, foi orientado na juventude por Aristóteles, desenvolvendo assim um particular e avançado raciocínio e uma preferência pelas ciências como a engenharia que está baseada na geometria. Na ótica de Da Camino, é uma das etapas a transpor pelo companheiro maçom “e cada uma simboliza uma parte da ciência, a saber: gramática, retórica, lógica, aritmética e geometria”. (2013, p.43)
Todas em geral e a geometria em particular, se nos mostra a arte de medir. É nesta etapa do desenvolvimento que o companheiro maçom inspirado na letra “G”, que representa a imagem da inteligência universal, desenvolve o conhecimento de medir todos os aspectos da natureza, pois esta é vital na principal construção que é o Templo Interior, símbolo da presença de LUZ em si mesmo, no seu corpo físico e mental, e consequentemente: espiritual.
Vários estudiosos se dedicaram ao estudo da Geometria e muitos acreditavam e procuraram comprovar a existência de um padrão ou proporção matemática, que na visão de Guimarães (2016) “implantada pelo Criador entre todas as coisas e fenômenos do Universo”. Assim como os gregos ao estabelecerem o Número de Ouro ou a Divina Proporção que é 1,618. Já no século XV, Da Vinci em sua obra Homem Vitruviano, descreve uma figura masculina nua, separada e simultaneamente em duas posições sobrepostas sendo a medida da cabeça até a linha dos pés dividida pela medida do umbigo até a linha dos pés é igual ao número 1,618 também conhecido pela letra grega “Φ” (fi). Em alguns casos o desenho e o texto são chamados de Cânones das Proporções.
Se mostra claro a estreita ligação entre a Geometria e a Aritmética pois surge na visão de Da Camino (2013, p. 124) “por intermédio das joias depositadas no altar: compasso e esquadro auxiliadas pela régua”, é ela a responsável pela construção de toda obra edificada. E é tamanha a importância dessa ciência-arte que no segundo grau o maçom denomina o G.∙.A.∙.D.∙.U.∙., como o Grande Geômetra, analisando com profundidade a letra “G”.
Por outro lado, conforme Baigent “as instituições são tão virtuosas, ou culpadas quanto forem os indivíduos que as compõem”. (2013, p.17)
Se é aqui, em nossa ágora, que encontraremos a possibilidade de um desenvolvimento individual, de tal forma a nos tornarmos pessoas mais identificadas com a Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Sendo a Maçonaria é uma sociedade de homens livres e de bons costumes. E, que lapidar a Pedra Bruta tem como significado o desenvolvimento individual, o aprimoramento do Templo Interior, o despertar da Iluminação. Se a base que sustenta o edifício é a Tolerância para que Irmãos indistintamente se reconhecem como tal, não estará faltando sairmos da teoria e efetivamente praticarmos o que aprendemos e apregoamos na sua forma mais simples, no cotidiano de cada um?
Hoje, me identifico muito com a alegoria da escada em caracol, na qual um jovem, “tendo passado a adolescência como Aprendiz e a virilidade como Companheiro, tenta, ousadamente, avançar e subir, apesar do caminho tortuoso e a subida difícil, na esperança de, pela diligência e pela perseverança, chegar a idade madura como um Mestre esclarecido.” (GORGS, 2004-2007 p.66)


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAIGENT, Michael. O Templo e a Loja: o surgimento da maçonaria e a herança templária. 2ª Ed. São Paulo: Madras, 2013.
D’ELIA JUNIOR, Raymundo. Maçonaria 50 Instruções de Companheiro. São Paulo: Madras, 2015.
DA CAMINO, Rizzardo. Rito Escocês Antigo e Aceito. Grau 1º ao 33º. São Paulo: Madras, 2013.
GUIMARÃES, José Maurício - M.'.I.'. A.'.R.'.L.'.S.'. Inconfidência 47 – Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, Brasil.
Blog disponível em: www.zmauricio.blogspot.com Acesso em 12/04/2016 23h30min.
MANUAL DE PROCEDIMENTOS Ritualísticos e Ritual e Instruções do Grau de Aprendiz Maçom do Rito Escocês Antigo e Aceito. Porto Alegre: GORGS, 2013.

RITUAL E INSTRUÇÕES do Grau de Aprendiz Maçom do Rito Escocês Antigo e Aceito. Porto Alegre: GORGS, 2004-2007.

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